Esperança para salvar o mundo
Aquecimento global e efeito estufa podem ser situações para mascarar ou encobrir as reais mudanças que a Terra está passando e evitar o pânico geral
Começa hoje a conferência climática ou COP 15, em Copenhague, na Dinamarca, onde líderes mundiais vão debater as mudanças climáticas e buscar um acordo para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Mesmo com muitas contradições sobre este assunto, e até certo exagero, a situação do planeta inspira cuidados, não só pelas práticas e comportamentos humanos que alteram as características ambientais, mas pelas complicações provocadas pelo aquecimento do Sol, sobre o qual os humanos não têm poder.
Sim, o aquecimento do Sol, que é uma variável do aquecimento global pouco considerada pelos meios de comunicação, mas muito observada pelos astrônomos. Segundo Richard Willson (pesquisador da Columbia University e do NASA’s Goddard Institute for Space Studies), o aumento da temperatura solar contribuiu com algo entre 10 e 30% do aquecimento global, registrado apenas entre 1980 e 2002. E, segundo consta, isso vem ocorrendo desde antes do início do século XX, não se verificando, portanto, uma conexão entre o comportamento humano e o estado do nosso Sol.
Outro aspecto duvidoso do aquecimento global é a possível manipulação de dados feita por integrantes da Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, em conluio com cientistas de outros países. A intenção é fortalecer o argumento de que mudanças climáticas têm origem em ações humanas, idéia que tem de ser investigada a fundo. A reação dos organizadores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, de mandar investigar, é um indício forte de que houve a manipulação.
De todo modo, seja pelo aquecimento provocado pelo Sol, pelos habitantes da Terra ou por ambos, os sinais de alerta climático estão por toda parte.
SINAIS DE ALERTA
- Derretimento de geleiras do Ártico ameaça a sobrevivência dos ursos polares. Pela primeira vez em 2008, a passagem do Noroeste (ao longo da América) e a passagem do Nordeste (ao longo da Rússia) ficaram sem gelo durante algumas semanas no verão polar.
- Derretimento das calotas polares, principalmente na Groenlândia e na Antártica. A diminuição da calota antártica, antes limitada à parte ocidental do continente, atinge agora as regiões costeiras do leste. O derretimento completo das geleiras da Groenlândia elevaria o nível dos mares em sete metros; a da calota antártica a mais de 70 metros.
- Derretimento das geleiras de altitude, principalmente as do Himalaia, ameaça o abastecimento de água em inúmeras regiões (norte da Índia, China). As geleiras dos Andes tropicais perderam entre 30% e 100% de sua superfície em 30 anos; a dos Pirineus podem todas desaparecer até 2050; 85% da camada de gelo, que recobriam o Kilimandjaro, em 1912, já haviam desaparecido em 2007.
- Elevação do nível dos mares é mais rápida que o previsto porque o derretimento das calotas polares não foi levado em conta no último relatório do IPCC. Os especialistas da ONU calcularam que a alta maré atingiria de 18 a 59 centímetros até o fim do século. Esta elevação pode ultrapassar um metro, afirmam ainda os especialistas em clima. Estados insulares, como as Maldivas, e regiões costeiras muito densamente povoadas (Bangladesh, Vietnã, Holanda) e inúmeras megalópoles estão ameaçados.
- Recifes de corais, que abrigam um terço das espécies marinhas do planeta, além de meio bilhão de pessoas, e protegem as costas dos maremotos, estão ameaçados pela acidificação dos oceanos: uma leve queda do PH da água provoca também uma menor fixação do cálcio pelas conchas, que estão fragilizados.
- Fenômenos metereológicos extremos são mais numerosos que antes. Haverá, sem dúvida, nos próximos anos e décadas mais ondas de calor extremo, inundações e secas nas zonas áridas.
- Desmatamento das florestas tropicais, como a da Amazônia, pode reduzir a capacidade de estocar carbono. Atualmente, a Amazônia recicla a cada ano 66 bilhões de toneladas de CO2, ou seja, quase três vezes o que liberam os combustíveis fósseis do mundo.
- Desertificação intensifica-se, principalmente no Sahel e no norte da China. O lago Tchad perdeu 90% de sua superfície em 40 anos, passando de 25.000 km2 a 2.500 km2. A seca de zonas úmidas já provocou um aumento de 20% de CO2, segundo a Wetlands International. Os principais países emissores são Indonésia, Rússia e China.
- Emissão de metano (hidratos de metano), contidos pelos solos do Grande Norte e pelos fundos marinhos, antes gelados permanentemente. O metano é um gás de efeito estufa 25 vezes mais forte que o CO2.
- Crescimento das águas do Pacífico mostra sinais geográficos e socioeconômicos em várias ilhas. A paradisíaca Kiribati começou a acumular reservas internacionais com o objetivo de comprar terras no exterior para os seus 100 mil habitantes, caso a elevação do nível do mar ameace o país. Nesta região, o avanço do Pacífico tem sido de 5,1 milímetros por ano, além da ocorrência regular de tempestades cada vez mais violentas. O volume de água potável já é crítico e a agricultura está sendo afetada. Moradores da costa mudaram-se para o interior e o governo está treinando a população em profissões que possam ser úteis em outros países, como a de mergulhador profissional.
Esse também deve ser um dos assuntos de Copenhague (7-18 de dezembro): encarar o rosto das primeiras vítimas inocentes das mudanças climáticas, que vivem nas ilhas Kiribati (Oceania). Integram como outras milhões de pessoas o rol de 50 países, sob risco de inundações ou vulneráveis aos efeitos do aquecimento global, que são responsáveis por apenas 1% das emissões mundiais de gás carbônico, nos últimos cinco anos, segundo a ONU.
TEMAS ESSENCIAIS EM DEBATE
A temática dessa cúpula resume-se, portanto, em alcançar um novo acordo sobre a redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (para depois de 2012) e os meios de financiamento desta proposta e a contenção do desmatamento, entre outros aspectos.
As principais questões a serem negociadas incluem:
- Conseguir compromissos de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa até 2020, que implica um custo econômico - em termos de eficiência energética e de mudança para tecnologias menos poluentes - necessidade que a atual crise econômica torna ainda mais polêmica. Os países industrializados querem dividir a responsabilidade pela atual situação com as economias emergentes, como as do Brasil, China e Índia, que hoje são fonte de metade das emissões de CO2, mas no futuro podem ser as principais.
- Angariar fundos para ajudar os países desenvolvidos a aplicarem um modelo econômico com menos emissões de CO2, além de medidas de adaptação às inevitáveis consequências das mudanças climáticas. Difícil definir quais instituições serão encarregadas da gestão destes recursos, considerando que os países emergentes já expressaram suas críticas contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
- Estabelecer o status legal do novo acordo que se arrasta pelos últimos dois anos, com os países em desenvolvimento querendo que o Protocolo de Kyoto (1997) seja estendido para além de 2012. Entretanto, os Estados Unidos abandonaram este Protocolo porque ele só é juridicamente vinculante para os países desenvolvidos, deixando de fora os emergentes e em desenvolvimento. Portanto, são duas as possibilidades: ampliar Kyoto (estabelecendo relações com os Estados Unidos) ou abandonar o Protocolo e adotar um novo acordo que inclua esse país..
- Conter o desmatamento nos países com vastas florestas tropicais, que pressionam por um acordo que os ajude financeiramente a preservar estes "pulmões" do planeta contra as emissões de CO2 é outro ponto técnico polêmico. Não se sabe ao certo que maneiras são mais eficazes para se medir a preservação, prevenir a corrupção e o desvio de dinheiro e garantir que os recursos sejam de fato empregados nesse mister.
QUEM É QUEM NESSE "JOGO"
Os principais atores das negociações do clima compõem três blocos: os países industrializados, os países em vias de desenvolvimento e os gigantes emergentes.
O bloco dos países em vias de desenvolvimento insiste que as nações ricas - a quem atribuem a culpa pelo aquecimento global - se comprometam legalmente a reduzir suas emissões de gases, em 40%, até 2020, em relação aos níveis de 1990. No entanto, se negam a fixar para eles mesmos reduções de emissões, alegando que precisam ter acesso aos combustíveis fósseis, mais baratos que outras formas de energia, para sair da pobreza. Mesmo assim, alguns destes países anunciaram medidas voluntárias para frear o crescimento de suas emissões até 2020.
Os países industrializados pressionam gigantes emergentes como Brasil, China e Índia para que imponham limites a seus níveis de emissão de gases causadores do efeito estufa. A China, maior emissor de CO2 do mundo, afirmou que pretende cortar suas emissões por unidade de PIB entre 40% e 45% até 2020, em relação aos níveis de 2005. O Brasil, por sua vez, prometeu uma redução voluntária entre 36% e 39% para 2020, sobretudo para combater o desmatamento da floresta amazônica. A Indonésia indicou que, com ajuda internacional, poderia reduzir seus níveis de poluição em 26% até 2020, também num trabalho contra o desmatamento. A Índia, assim como a África do Sul, ainda não fez nenhuma proposta específica a respeito.
Os países industrializados estão divididos: de um lado, estão os que desejam que as metas de redução de gases causadores do efeito estufa sejam legalmente vinculantes; do outro, aqueles que sugerem mantê-las apenas na forma de iniciativa voluntária.
Os Estados Unidos, maior economia do planeta e segundo maior emissor de CO2, está fora do Protocolo de Kyoto, mas agora se mostra favorável a um acordo diferente. No entanto, seu Congresso ainda não aprovou o projeto de lei que estabelece os cortes de emissões. A União Europeia (UE), que salvou Kyoto após o abandono americano em 2001, fechou um acordo unilateral para reduzir suas emissões em 20% até 2020, em relação aos níveis de 1990. O Japão, por sua vez, está disposto a cortar seus níveis de emissão em 25%, mas impõe uma série de condições para fazê-lo. O Canadá estuda uma redução de 20% para 2020 em relação a 2006, o que equivale a um corte real de 3%. A Rússia ainda não se posicionou em relação a potenciais compromissos.
Na verdade, o que está em debate (velado) são as transformações planetárias dos próximos anos, que pouco têm a ver com as atividades humanas. O aquecimento global é apenas uma fantasia imposta aos consumidores de notícias menos informados.
Leia também: O Sol e o aquecimento global e Aquecimento global x fome.
2 Comentário(s):
A conferência climática da ONU, em Copenhague, que se encerrou no último dia 18, não produziu um novo tratado climático global, mas colocou em discussão quatro fundamentos até agora protelados (pelos países pobres), procrastinados (pelos países em desenvolvimento) ou ignorados (pelos países ricos).
1. Quanto os países industrializados estão dispostos a reduzir em suas emissões de gases poluentes?
2. Como grandes países em desenvolvimento, como a China, o Brasil e a Índia, vão fazer para limitar o crescimento das suas emissões?
3. Qual é a ajuda necessária para os países em desenvolvimento participar da redução das suas emissões e adaptar-se aos impactos das alterações climáticas?
4. Como o dinheiro do fundo mundial vai ser gerido?
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, produziu um acordo climático com o apoio do grupo BASIC (formado por Brasil, África do Sul, Índia e China), mas o pacto, chamado de Acordo de Copenhague, está longe das ambições que existiam antes da conferência. Eis os principais pontos acertados, que teve a crítica e os protestos dos países pobres (que produzem pouco efeito estufa) e de diversos países em desenvolvimento:
I - promover profundos cortes nas emissões globais, de modo a manter o aquecimento no limite de dois centígrados.
II - instituir um acordo legalmente vinculante, entre as nações do acordo, até o final de 2010.
III - países desenvolvidos devem proporcionar recursos financeiros, tecnologia e capacitação aos países em desenvolvimento para que implementem as medidas de controle e preveção do aquecimento climático;
IV - países desenvolvidos e em desenvolvimento devem dar ajuda aos países vulneráveis e carentes de ajuda, aos pequenos Estados, ilhas da Oceania e as nações da África, menos desenvolvidos.
V - os países desenvolvidos devem mobilizar conjuntamente cerca de 100 bilhões de dólares até o ano 2020, ficando os compromissos, a curto prazo (2010-2012), assim estabelecidos: União Européia - 10,6 bilhões de dólares; Japão - 11 bilhões de dólares; e Estados Unidos - 3,6 bilhões de dólares, entre outros.
Um ponto de discrepância no pacto, principalmente porque a China se negou a aceitar controles internacionais, é o que trata do monitoramento dos compromissos das nações em desenvolvimento.
O acordo reconhece a importância de reduzir as emissões produzidas pelo desmatamento e degradação das florestas e concorda em promover incentivos positivos para financiar tais ações com recursos do mundo desenvolvido.
As atuais promessas de prevenção e controle da poluição mundial não são suficientes para limitar o aquecimento médio do planeta a 2 graus - limite térmico para se evitar os piores efeitos da mudança climática, como secas, inundações, elevação do nível dos mares e extinção de espécies.
Um novo documento da ONU (IPCC) diz que, para manter o aquecimento em 2 graus, seria necessário que as nações ricas reduzissem suas emissões em 30% até 2020, em comparação a 1990. Já os países em desenvolvimento deveriam cortar as emissões em 20% e os países em desenvolvimento, em 15% a 30%.
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